“Caminho sem volta”: Mudanças nas regras da FIFA devem acontecer, alertam especialistas

A International Board, órgão que regula o futebol mundial, tem reunião marcada para o final de semana em Londres. O objetivo do encontro será avaliar algumas sugestões para melhorar a dinâmica do jogo, em especial o tempo de bola rolando. Os principais pontos do encontro a serem debatidos serão o da duração das partidas e da regra do impedimento.

Arsene Wenger, diretor de desenvolvimento da FIFA, já se manifestou publicamente favorável a essa alteração, beneficiando mais os atacantes e os gols. No final do ano passado, também chegou a ser cogitado que as cobranças dos arremessos laterais passariam a ser com os pés, e não mais com as mãos.

“Eu gostaria que não houvesse impedimento caso uma única parte do corpo com a qual você possa marcar um gol esteja alinhada com o defensor. Isso pode ser uma vantagem para os atacantes. Já um lateral deveria ser uma vantagem, mas nessas situações você enfrenta dez jogadores de campo em jogo, enquanto você tem apenas nove. Estatísticas mostram que oito de dez situações de laterais você perde a bola. Na sua metade do campo, o jogador deveria ter a oportunidade de chutar a bola “, declarou Wenger, em entrevista ao jornal francês L’Equipe, em setembro de 2021.

De acordo com informações do jornal espanhol, essas transformações não seriam imediatas, mas começariam em fase de testes já a partir de 2024, principalmente no que tange o tempo das partidas. Os 90 minutos seriam encurtados, e o relógio seria parado ao final de cada jogada.

Para Bruno Maia, especialista em inovação e novas tecnologias do esporte e entretenimento e sócio da Feel The Match, desenvolvedora de propriedades intelectuais para Web3 e Streaming, já antevê essas mudanças desde 2020. No livro “Inovação é o Novo Marketing“, ele menciona as mudanças que o futebol deveria passar ao longo desta década e cita a duração dos jogos.

“O sucesso do entretenimento, e o esporte é parte disso, passa pela possibilidade de o consumidor poder escolher o que deseja assistir, um modelo já incorporado pelas novas gerações e diferente do responsável por popularizar o futebol. E parece evidente a dissolvição do interesse dos mais novos. O tempo está passando e as gerações mais jovens não estão esperando o futebol resolver esse problema” explica o executivo.

Maia entende que as mudanças nos hábitos de consumo e expansão do streaming são fatores determinantes para essas transformações. Ele cita inclusive um exemplo que vem do Brasil, mais precisamente na Copa do Nordeste, uma competição que nasceu em seu novo formato já no mundo digital, como a primeira a fazer a transmissão de uma partida no TikTok, aplicativo de vídeo que virou febre mundial.

Este assunto é recorrente. Em abril de 2021, o presidente Florentino Pérez, do Real Madrid, deu uma declaração que fez ganhou as páginas do noticiário mundial ao dizer que os jovens não se interessam mais por futebol.

“O futebol tem de evoluir, como tudo na vida. Tem de adaptar-se aos tempos. Estamos todos arruinados. E quando não se tem rendimentos para além da televisão, a maneira de tornar o futebol rentável é fazer com que os jogos sejam mais atrativos para serem vistos por adeptos de todo o mundo”
Florentino Pérez, em entrevista ao programa Chiringuito

Em março de 2020, algumas alterações já vistas atualmente tiverem um início, caso das cinco substituições por jogo – ao invés das três convencionais. Na ocasião, outros temas foram colocados à mesa pela International Board (IFAB), caso da cobrança de uma falta de e para o mesmo jogador, substituições ilimitadas, como já acontece na NBA, por exemplo, e períodos de exclusão por amostragem de cartões.

“Eu acho que a mudança na forma de consumir conteúdo nas gerações mais jovens já aconteceu. A principal delas, na minha opinião, é que hoje o esporte, especialmente o futebol, eu considero uma etapa de uma jornada de entretenimento que o jovem tem. O que eu quero dizer com isso? Antigamente toda a nossa emoção, todo nosso entretenimento, quando se era jovem, convertia para o futebol no final de semana na televisão. O jornalismo promovia aquele jogo, a gente na escola discutia a expectativa daquele jogo, e no dia seguinte falávamos novamente sobre aquele jogo até que chegasse o próximo jogo. Não tínhamos tanta variedade de coisas pra consumir ao mesmo tempo” exemplifica Bruno Maia.

Mas, recentemente, o consumo em massa popularizado pelas TVs têm migrado para o individual e customizado, simbolizado por serviços de streaming e outros canais digitais. “É uma digitalização que acontece há 20 anos e não foi acompanhada pelo futebol. O esporte firmou contratos com a premissa de um crescimento contínuo que já não iria acontecer, mas mingou de vez com a pandemia” complementa.

Fonte: Globo (GE)

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